Eu me tornei professor por acidente. No colégio, como era bom em matemática, sempre ensinava alguém… depois a coisa foi ficando mais séria. Comecei a ensinar matemática particular ainda no primeiro grau… aos 18 anos eu já era instrutor de cursos de programação. Acho que no primeiro curso eu ensinei Clipper :-)

Em 1994, virei professor de lógica e técnica de programação e também de linguagens de programação I e II. Professor de algoritmos, Cobol e C. Desde então passei a me interessar seriamente por educação e a me impressionar com a velocidade que as pessoas aprendem. Confesso que ensinar a programar não é fácil, aprender também não. Com um pouco de prática se melhora, mas nunca fiquei contente… continuo procurando novas formas de ensinar programação. Nos últimos anos, eu ensinei Python. Uma linguagem que gosto muito e uso no meu dia a dia.

Esta semana também caí por acidente na página do projeto One Laptop per Child. Eu já escutei muito sobre este projeto e resolvi ler um pouco mais. A comunidade técnica sempre reclama que não se pode fazer quase nada com o tal notebook entre outras coisas. Eles procuram desenvolvedores para a plataforma, que é Linux, mas rodando em uma máquina muito enxuta para os padrões de hoje. Não resisti, baixei a imagem e fiquei testando. Lembrei dos dias negros do Linux ao tentar configurar o teclado belga no X. Fazia tempo que não tinha tanto trabalho para configurar uma coisa tão besta. Depois de ignorar o texto da Wiki do projeto e de rodar o Qemu corretamente, a imagem funcionou com rede, mas ainda sem som. Bem, o som ainda não está funcionando, mas eu não conseguia mais esperar para testar o Invasores no OLPC, ou na imagem dele. E não é que funcionou sem alterar uma só linha!

Mais um ponto para o Python. Também, o OLPC é baseado no Fedora, mas usa uma interface gráfica diferente, o Sugar. Ainda estou resolvendo alguns problemas com o tamanho da tela do jogo, mas mesmo não rodando em tela cheia, o jogo funciona sem problema algum. Eu vou fazer um release só para o OLPC em breve.

Voltando ao OLPC, eles precisam de kits de programação, incluindo a criação de jogos simples. Como os fontes do Invasores são em português, tomara que ajude alguém a entender como fazer um jogo extremamente simples.

Algumas pessoas tem criticado o OLPC, resumindo o projeto a tecnologia do notebook. Mas lendo a wiki deles, percebe-se que a tecnologia é o foco atual, mas o objetivo do projeto é proporcionar uma melhor educação a milhões de excluídos. Muitos estão preocupados com problemas mais sérios, como a falta de professores nas escolas, energia elétrica e água potável. Isso também é real e muito importante. Minha única crítica é a busca incessante por balas de prata. O OLPC não pretende e nem vai resolver todos os problemas do mundo. Este projeto é mais uma contribuição, outras ações devem ser realizadas para melhorar a vida de todos.

Eu me identifiquei com o projeto, porque uma vez, conversando com amigos, nos perguntamos quantos talentos se perdiam com a miséria. Imagine só: você um gênio da programação, mas o único equipamento a que você tem acesso é um carrinho de mão. Qual é chance de por acidente descobrir seu talento? Quantos matemáticos, químicos, físicos e biólogos não perdemos com estas faltas de oportunidade?

Um computador para cada criança dará uma chance para milhares de crianças conhecerem a Internet, textos, sons e gráficos. Isto por si só já justificaria o projeto para mim. Se apenas 0,1% das crianças que receberem o notebook mudarem de vida, significa que precisaríamos de 1000 notebooks para salvar uma criança. Calculando os custos disso, vejamos US$250,00 x 1000,00 = US$250.000,00. Um quarto de milhão para integrar ou reaproximar uma pessoa da sociedade moderna. Uma pessoa com acesso a educação e trabalho pode reverter o ciclo de pobreza de várias gerações, eu já vi isso ocorrer várias vezes no Brasil. Eu também acredito que consigamos um sucesso bem maior que 0,1%. Para mim, muito promissor. Ainda que muitos notebooks caiam no mercado negro, sejam roubados ou simplesmente danificados em curto espaço de tempo, acredito que será uma marca na vida dessas crianças.

Uma coisa que deixou preocupado é a falta de Internet no Brasil. Os últimos números que li, traziam algo como 14 ou 20 milhões de internautas no país. Embora este número venha crescendo, ainda demonstra nosso atraso e má distribuição de renda. Quantas escolas públicas temos com acesso à Internet? Na década de 90, o problema era ter telefone. Agora é conseguir Internet. Em Manaus, a situação é crítica. Ainda se vendem planos de 200 ou 300Kb/s como banda larga. Precisamos urgentemente de Internet nas escolas. O OLPC sem Internet vai ficar bem limitado, mas isso não invalidará os possíveis ganhos do projeto. Precisamos de mais educação e de mais acesso a Internet. Um grande país tem grandes problemas. Meu sonho megalomaníaco é de transformar o Amazonas em uma nova Índia :-)

Como disse, não resolverá todos os problemas do mundo, mas é um esforço positivo. É muito importante criticar, visões diferentes sempre são bem-vindas. Só não esqueça que o projeto é sobre crianças e educação. O laptop é só um detalhe.